22 agosto 2010

Quo Vadis Sporting? Por Paulo B. Freitas

Quo Vadis Sporting?

Começo por ter a honestidade intelectual de declarar o seguinte:

Fui um dos que preconizou - à minha dimensão e singeleza - aquilo que se veio a denominar Projecto "Roquette". Apoiei desde então as linhas directrizes das sucessivas direcções do clube.
Reconheço não apenas que se cometeram erros mas que se racionalizou demasiado o clube sem que os resultados aos mais diversos níveis o justificassem.
Apesar de não me entusiasmar, apreciei deveras o trabalho de Paulo Bento nos 4 anos a treinar a equipa principal.
Não fosse a corja habitual - sistema, árbitros e comunicação social - teria sido claramente o melhor período de resultados da história que vivi (desde Novembro de 1964) e mesmo assim...
Mas também não esqueço que tenho quase 46 anos e fui campeão nacional de futebol apenas 7 vezes...
Posto isto e dado que estamos numa encruzilhada, para onde deveremos ir?
A actual direcção herdou uma situação difícil a todos os níveis e com o tempo a escassear mais do que o habitual tem balbuciado, especialmente no futebol profissional. Se a reestruturação financeira está finalmente perto de estar concluída. Se nas modalidades se reencontrou o caminho, não apenas do sucesso, mas do orgulho em ser Sporting. Quanto ao futebol... huummm...
E engana-se quem pensa que há saídas fáceis e milagrosas. Ou que as mesmas podem ser encontradas pelos abutres habituais que apenas aparecem nas derrotas e ainda declaram orgulhosamente que nem vêem os jogos...
Impõe-se uma séria reflexão e o traçar de um caminho. Não quero menosprezar o trabalho de todos aqueles que estiveram no Congresso em Santarém, nos quais me incluo, mas foi no mínimo inconsequente.
Confesso não estar seguro de qual seja o caminho certo mas dou o meu modesto contributo.
O futebol é essencialmente amor e paixão. Salvo raras e honrosas excepções - como a Premier League - o espectáculo é desinteressante. O que as pessoas querem é ver o seu clube ganhar e assim terem algumas alegrias.
Orgulho-me de fazer parte de um clube em que as pessoas cantam " O Sporting é o nosso grande amor". Mas infelizmente aqueles que o amam - da única forma que deveria ser o amor, incondicional e absoluto - não são muitos. A maior parte apenas ama quando ganha. Mas essa é a natureza das coisas e pelo menos neste campo não pretendo ser D. Quixote.
Estou certo de que a maioria dos adeptos apenas quer uma coisa. Ganhar. A qualquer custo e sem olhar a meios.
É um caminho. Perigoso, porque só pode ganhar um, por piores ou melhores que sejamos. Mas ainda assim um caminho.
Recomendo a todos visionar o documentário da ESPN "Two Escobars". Como o $ da droga transformou o Atletico Nacional de Medellin (também ele verde e branco) e o levou a ganhar a Copa Libertadores (1989) e a Colômbia a ser em meados dos anos 90 uma potência do futebol mundial.
Seja como for estou certo de que não podemos nem devemos continuar a ser os únicos cavalheiros impolutos. Teremos finalmente de nos dar ao respeito e exigir ser respeitados pela corja habitual.
Mas percorrendo ou não esse caminho temos de definir uma política desportiva estável e consequente que nos guie.
Ao longo dos últimos anos aprendemos à nossa custa o mapa da formação, os seus méritos e perigos. Estaremos hoje todos de acordo que deveremos formar jogadores para o, e à Sporting e não para os negociarmos. Os negócios decorrerão (ou não) naturalmente, mas esse não pode nem deve ser o objectivo e muito menos a mentalidade que incutimos nos que formamos.
Uma das coisas que mais me incomoda é o facto de "situação" e "oposição" esgrimirem argumentos corporativos e economicistas - activos, investimentos, auditorias, rentabilidade, etc. - que não alimentam mas minam o sentimento.
O facto de sermos dos poucos clubes que ano após ano tem governo e oposição também diz muito.
A meu ver - e sem entrar em detalhes estéreis para este efeito - existem duas opções:
a) RESULTADISTA. Potencialmente mais eficaz a curto prazo. Espectáculo é na Ópera. Futebol é para ganhar nem que seja meio a zero com o golo marcado no último minuto, com a mão e fora de jogo. Exemplos? Domingos Paciência do SC Braga, o mais italiano dos treinadores. Mas também Paulo Bento que com a sua tranquilidade espremeu tudo que podia de planteis frágeis.
b) ATACANTE. Mais divertido e entretido mas de resultados duvidosos num mundo dominado pelo "bas fond" e num campeonato de retranca. O futebol do queremos marcar mais um que o adversário. Exemplo? Co Adrianse e os seus 3 defesas.
Nenhum deles é garantia de sucesso, leia-se vitórias. Mas o segundo claramente rega melhor o nosso amor e paixão e proporciona mais entretenimento.
Esta é a minha perspectiva. Mas seja ela qual for creio que teremos de assumir um caminho. Estável e com um objectivo. Frontal e sério.
Por isso talvez seja tempo de pensar em prazos e objectivos. O de Roquette era 2 em cada 5 ou se preferirem ganhar 40% das vezes. Ganhámos 1 em 10. 10%. Mas recordo que também nesse tempo se experimentou um caminho. Caminho esse que curiosamente não deu logo resultados porque o Sistema - da forma mais descarada e impune de que me lembro - não deixou. Lembram-se do Mirko Jozic?
Mas não pode ser um projecto de um ano apenas. Será que estaremos disponíveis para esperar? Ou continuaremos o caminho da minha vida, eternos candidatos mas com 15% de sucesso (1/3 desse caminho com apenas um opositor...)?

Paulo B. Freitas
Sócio 4967

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